Ant?nio Delfim Netto

Sexta-Feira, 30 de julho de 2010

O Brasil colheu mais uma safra abundante de gr?os em 2009/2010 no sul-sudeste e no centro-oeste, mas muitos dos agricultores dessas regi?es j? t?m como certo que os resultados financeiros (quando houver) ser?o magros, e, em produtos da maior import?ncia (em especial o milho) as margens de lucro ser?o negativas.

O setor agr?cola, mesmo repetindo recordes de produtividade na maioria das lavouras, ainda se prepara para voltar ? rotina da renova??o de empr?stimos que j? rolam h? anos, sem muita esperan?a de reduzir o peso do passivo acumulado.

O baixo clero pol?tico e as entidades semiclandestinas que o apoiam j? procuram a m?dia para constranger o governo a negar uma nova repactua??o das d?vidas, com expans?o dos prazos de car?ncia e renegocia??o dos d?bitos dos investimentos.

O Minist?rio da Agricultura se apresta a concluir estudos para respaldar uma decis?o do governo que permita agilizar a repactua??o nos bancos oficiais e estimular o setor financeiro privado a operar na mesma dire??o.

Alguns bancos que atuam de forma importante no financiamento do custeio agr?cola j? come?aram a emitir sinais, concordando com que o refinanciamento ? o caminho mais adequado para que os agricultores continuem a plantar.

Apesar da obrigatoriedade de manter uma pol?tica fiscal sadia, o governo ter? um milh?o de argumentos favor?veis para amenizar os preju?zos no setor agr?cola, pelos seguintes fatos que se verificaram interna e externamente e s?o respons?veis pelo encolhimento ou pulveriza??o das margens de lucro das colheitas: c?mbio descalibrado; pre?os das exporta?es em queda gra?as ao prolongamento da crise econ?mica mundial (e seu agravamento na Eurol?ndia devido ? cumplicidade de governos e bancos na renova??o das patifarias nos sistemas financeiros); eleva??o dos estoques de alimentos e sua maior deprecia??o facilitada pelas pol?ticas de subs?dios americanos e europeus; enfraquecimento do com?rcio global ainda em fun??o da crise e meia-retra??o chinesa; e finalmente a conten??o dos pre?os internos no Brasil diante da expectativa da supersafra de alimentos.

Tais eventos encadeados contribu?ram para a redu??o das margens de ganho dos produtores de milho, arroz e at? mesmo a soja (com margem negativa para o milho em Minas, Mato Grosso, Goi?s, Bahia e Mato Grosso do Sul), num momento em que a agricultura brasileira aumenta ainda mais seus ?ndices de produtividade, mantendo uma const?ncia impressionante.

Esses aspectos do desenvolvimento da agricultura brasileira foram real?ados numa interessante entrevista da presidente da Confedera??o Nacional da Agricultura e Pecu?ria, senadora K?tia Abreu. Ela produziu um r?pido hist?rico do que adequadamente chamou de "uma silenciosa revolu??o no campo brasileiro a partir dos anos 70, quando novos agricultores romperam com formas tradicionais de produ??o, apropriaram-se do conhecimento acumulado nas universidades rurais e na nova empresa brasileira de pesquisa agropecu?ria -a Embrapa- e trouxeram para a produ??o rural a disposi??o de assumir riscos e a compuls?o do crescimento." A ilustre representante de Goi?s citou alguns dados para mostrar o progresso impressionante: em 1965, o Brasil produzia 20 milh?es de toneladas de gr?os para uma popula??o de 80 milh?es (250 quilos por ano por habitante); em 2008, para 190 milh?es de habitantes a produ??o chegou a 144 milh?es de toneladas (758 quilos per capita).

Com uma ?rea de plantio apenas duas vezes e meia maior, a produ??o cresceu 7 vezes, no per?odo. Conclui a senhora K?tia Abreu: "A a??o desses novos empreendedores transformou a produ??o rural brasileira, tornando-a altamente produtiva em poucas d?cadas e a segunda maior do mundo em escala e diversidade de produ??o e a primeira e ?nica grande agricultura em ?rea tropical".