01/12/2010As duas entidades rivalizam-se no encontro na Estação Experimental de Citricultura sobre o modelo ideal do conselho da laranja.
Salão lotado de citricultores da Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro para a reunião da Associtrus, para discussão do Consecitrus, realizada na tarde de segunda-feira (29). Pela 1ªvez no estado de São Paulo, houve confronto direto entre representantes das indústrias e citricultores, sobre o novo conselho.
Na abertura, o presidente da Associtrus, Flávio Viegas reforçou o objetivo de discutir o formato do Consecitrus e quais são as divergências da entidade sobre o conselho. ?Precisamos de mais debate e tempo para discutir, porque nesta reunião temos três posições divergentes, que precisamos encontrar uma proposta que dê benefícios para os produtores?.
O vice-presidente da Associtrus, Douglas Kowarick mostrou em projeções no telão do estudo ?Retrato da Citricultura? ? Ponderações sobre o Trabalho da Citrus BR e MarkEstrat, feito pelo pesquisador da USO/Ribeirão, Marcos Fava Neves.
Para Douglas, o modelo proposto pelas empresas para Consecitrus peca por reduzir o poder de barganha, não tem referencial no mercado interno para formação do preço e classifica as pequenas propriedades rurais como ineficientes.
Douglas criticou a fórmula apresentada pelo MaskEstrat sobre os gastos do citricultor, que só coloca na equação os custos operacionais, ?Eles falam de R$ 7 e a Conab fala em R$9 as despesas por cada caixa de laranja?.
Para vice-presidente da Associtrus, deveria entrar na equação os custos do produtor com a inevitável depreciação do pomar, com o passar dos anos. Há também o receio de que o Consecitrus gere um ?Contrato Padrão?, que engesse a formação de novas negociações.
Presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, Marco Antonio dos Santos, é coordenador da mesa de citricultura da Faesp e presidente da Câmara Setorial da Laranja em Brasília.
Ele relatou os primeiros passos da criação do Consecitrus, nas conversas com o secretário de Agricultura, João Sampaio, além dos contatos com os 200 sindicatos rurais paulistas. ?Não podemos continuar com estas grandes variações de preços que enfrentamos nos últimos anos?.
Para Marco, a comparação com do Consecitrus e Consecana tem de ser moderada, porque o órgão do setor da cana, também apresenta falhas, na opinião dos agricultores. ?As cicatrizes que temos com as indústrias são muito profundas?.
Associtrus, Faesp e SBR tentaram contratar a assessoria de Alexandre Mendonça de Barros, consultor renomado em agronegócio, para preparar uma proposta dos produtores de laranja, mas nada ainda está acertado. Outro entrave é a unificação das entidades dos agricultores para representar as três entidades, dentro do Consecitrus.
Para o presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, José Osvaldo Junqueira Franco, o debate de formação do Consecitrus começou errado, pautado na pressa do secretário de agricultura, João Sampaio, e alicerçado na proposta supostamente esboçada pelas indústrias.
No Consecitrus, as deficiências seriam a falta de números oficiais sobre a quantidade de produtores, pés de laranja e outros fatores importantes da cadeia produtiva da citricultura.
O presidente acha que para as empresas, o Consecitrus criaria um preço máximo para pagar o preço da caixa da laranja; enquanto para os citricultores querem que o valor seja o piso do preço da caixa. ?Tem de discutir como o Consecitrus vai ajudar a ponderar as forças dos dois lados?, opina José Osvaldo.
Ele criticou a proposta de formação de nova entidade dos produtores para se fazer presente dentro do Consecitrus. ?o secretário se apressou em força assinatura da carta de intenções?.
Políticos - O deputado Davi Zaia (PPS) diz ser vital criar um conselho da laranja viável para diminuir em cima dos produtores os custos de produção, incluindo os gastos com tratamento de doença. ?Temos de evitar esta variação tão grande no setor onde o citricultor recebe R$ 3 numa safra e R$ 15 na outra?.
Para o deputado, o cenário internacional é preocupando, devido os últimos boatos de abalo financeiro na União Europeia e crise cambial, que encarecem o valor da fruta.
O prefeito de Cajobi, Dorival Sandrini (PTB), também presidente da Associação dos Municípios das Regiões Citrícolas, relembrou suas quatro décadas de produção citrícola, quando havia muito mais indústrias para negociar a colheita. ?Hoje temos poucas opções para ter para quem vender?.
De acordo com o prefeito, o futuro do país está nas mãos dos produtores, principalmente no que diz respeito a fornecimento de alimentos. ?Por isto, precisamos pedir para as indústrias pagar um preço para que tenhamos como sobreviver?.
Por isto, Sandrini reforçou a necessidade dos citricultores elaborarem estudos, sobre os custos de produção dos agricultores e das processadoras da fruta. ?Todos os negócios feitos as pressas sai mais feito?, diz o prefeito pedindo mais cautela na formação do novo conselho.
Chamado para dar a palavra, Italiano (PV) comentou sobre a formação do Consecitrus. ?Estou torcendo para que isto aconteça o mais breve possível, porque Bebedouro já viveu o auge da citricultura, mas com a queda, teremos uma redução de 0,12 pontos no ICMS?.
Enfrentamentos ? O presidente da Citrus BR, Christian Lohbauer esteve presente na reunião. Sua vinda foi elogiada pelo mestre de cerimonia do evento, Kal Machado, assessor de Mendes Thame (PSDB). Mas as lideranças citrícolas presentes não se intimidaram falar a insatisfação com o modelo de Consecitrus.
Um dos produtores, Santo Ferreira de Mello diz estar preocupado com o risco de concentração da produção de laranja. Em 1990 haviam 30 mil citricultores, enquanto em 2010, caiu para sete mil citricultores, mas sem alterar a produção nacional. ?O que está acontecendo é uma reforma agrária ao contrário, porque estão acabando com os pequenos agricultores; e é impossível manter qualquer produtor, enquanto indústria ainda pagar U$3 por caixa?, argumenta Saulo.
Flávio Viegas complementou dizendo que a culpa pela concentração da produção foi culpa das indústrias, através dos carteis. ?47% dos pomares estão nas mãos de 120 produtores?, comenta o presidente da Associtrus.
Sobrou critica até para o secretário de Agricultura, João Sampaio, que supostamente não estaria defendendo os interesses dos citricultores, ao tentar articular a formação do conselho, como ultimo ano de trabalho, no fim de seu mandato no cargo em 31 de dezembro de 2010.
Durante os momentos abertos ao público, os citricultores dizem que há meios de consultar os agricultores sobre o modelo de conselho da laranja. A prova disto está na forma que o Governo de SP levanta dados sobre o Greening.
Os citricultores reivindicaram os mesmos benefícios dados pelas usinas, que incentivam os produtores a investirem no melhoramento das propriedades rurais. A sedução pode aumentar com o crescimento da demanda internacional de etanol, com contratos mais vantajosos.
No calor da discussão, citricultores revelaram o desânimo com o setor, vontade de abandonar o laranja e o descontentamento com as indústrias e governos.
Citrus BR ? Chamado para falar, presidente da Citrus Br, Christian Lohbauer não existe proposta de Consecitrus da indústrias, salientando que o estudo MarkEstrat é aberto a críticas. ?Não tem custo total da produção, porque isto vai aparecer dentro do Consecitrus?.
O dirigente criticou a falta de proposta da Associtrus argumentando ?Quem é contra tem de apresentar as suas sugestões?.
Dirigindo ao presidente do Sindicato Rural de Bebedouro José Osvaldo, Lohbauer rebateu o artigo publicado por ele na Gazeta. ?Não é verdade que não tem transparência, porque queremos colocar tudo na mesa?.
O dirigente da Citrus BR ressaltou que não participou do histórico de brigas entre citricultores e indústrias. Reforçou o convite para participação dos produtores no seminário que acontecerá em 17 de dezembro, em conjunto com a Gazeta.
Divergências cítricas ? Presidentes da Associtrus, Flávio Viegas e da Citrus BR, Christian Lohbauer terão novo debate em 16 de dezembro. (Gazeta)
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