24/10/2006
Em 12 meses, pre?o do produto j? aumentou 60% em d?lar e 45% e, real, mas ganho n?o chega ao citricultor M?rcia De Chiara ENVIADA ESPECIAL CATANDUVA (SP) O produtor Antonio Os?rio Fachini, de 58 anos, que passou mais da metade da sua vida plantando laranja na regi?o de Catanduva, no interior do Estado de S?o Paulo, n?o tem d?vida de que a citricultura nunca teve perspectivas t?o favor?veis como hoje. Mas Fachini e a maioria dos citricultores tamb?m n?o t?m d?vida de que o cen?rio favor?vel da atividade n?o teve impacto positivo no bolso do produtor. ?O citricultor ainda n?o foi beneficiado pela alta do pre?o do suco e da laranja. Isso ficou s? no papel.? Segundo especialistas, hoje essa conjuga??o positiva de fatores supera at? mesmo o cen?rio da d?cada de 80, quando ocorreram sucessivas geadas na Fl?rida (EUA) e o setor viveu anos dourados. Na semana passada, por exemplo, o pre?o do suco de laranja congelado e concentrado na Bolsa de Nova York bateu a casa de US$ 2,8 mil por tonelada - 193 centavos de d?lar por libra-peso -, a maior cota??o em 16 anos. Em 12 meses, o produto j? aumentou 60% em d?lar e 45% em real. Nesse per?odo, o pre?o da caixa de laranja no atacado de S?o Paulo cresceu 17%, de R$ 11,20 para R$ 13,20. Enquanto isso, produtores como Fachini, que cultiva mil hectares de laranja espalhados em seis propriedades no norte paulista, receberam da ind?stria que extrai o suco de laranja US$ 3,5 por caixa, ou R$ 7,70, conforme contratos assinados. ?Isso mal cobre o custo vari?vel da caixa?, diz o produtor. Ele tenta, assim como tantos outros, negociar com a ind?stria um pre?o adicional pela laranja. Nas contas do vice-presidente da Associa??o Brasileira dos Citricultores (Associtrus), Douglas Eric Kowarick, o custo vari?vel por caixa ? de R$ 11. A disparada dos pre?os do suco e da laranja indica uma nova realidade para o setor, marcada pela menor oferta de fruta e de suco. O pano de fundo ? o consumo mundial, que cresce na casa de 4,5%, depois de ter aumentado entre 2,5% e 3% nos ?ltimos anos, diz o presidente da Associa??o Brasileira de Exportadores de C?tricos (Abecitrus), Ademerval Garcia. Atingida pelos furac?es, a pr?xima safra da Fl?rida, que garante o suprimento dos EUA - o maior consumidor mundial -, n?o deve passar de 130 milh?es de caixas. Isso ? um pouco mais da metade da ?ltima safra. ?O efeito do furac?o equivale ao de uma geada prolongada?, diz Kowarich. Ele explica que, com a passagem de furac?es, n?o s? foram afetados os pomares em produ??o como tamb?m viveiros de mudas, por causa da dissemina??o de doen?as. Isso deve prejudicar as safras futuras e garantir uma menor oferta de laranja para a ind?stria dos EUA nos pr?ximos anos. O Brasil, que ? o maior produtor mundial de laranja, com a safra paulista respondendo por 80% da produ??o nacional, tamb?m ter? uma oferta menor de fruta do que a inicialmente prevista. Afetada pela seca, a safra paulista 2006/2007 deve ficar em 357 milh?es de caixas, ante a previs?o de 360 milh?es. Fora o cen?rio de suprimento mais apertado e baixos estoques de suco na Fl?rida e no Brasil, os citricultores paulistas contam desta vez com um fator adicional a seu favor: a possibilidade de trocar a laranja pela cana, que avan?a no norte do Estado e ? sin?nimo de receita garantida. ?A carta na manga do produtor ? a cana?, diz Fachini. Na Frucamp, um grupo formado por 36 citricultores que se uniram para vender a laranja para a ind?stria e do qual Fachini participa, 20% deles decidiram arrendar parte da ?rea de pomares para cana. Fachini ainda resiste a essa mudan?a. ?Sou um citricultor nato. Acredito que o bom senso da ind?stria prevale?a na negocia??o de pre?os.? Se a ind?stria n?o pagar um adicional ao produtor, ele acredita que ser? um tiro no p?. ?Os fabricantes de suco precisam de mat?ria-prima.? A cren?a do citricultor no cen?rio favor?vel aparece nos novos projetos. Para 2007, Fachini planeja ampliar em 150 hectares a ?rea de produ??o de laranja. Para isso, pretende investir R$ 3,5 milh?es.