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Uma história de conflitos

14/08/2015

A citricultura em São Paulo tomou impulso e novo direcionamento a partir de meados da década de 60. Em 1962, uma intensa geada devastou os pomares da Flórida e abriu o mercado para o suco brasileiro. Opaís já tinha uma citricultura desenvolvida, tecnologia, contou com apoio governamental e soube aproveitar a oportunidade, tornando-seem pouco tempo o maior produtor e exportador de suco de laranja.

O setor, desde o início, caracterizou-se por um oligopólio industrial, ambicioso e determinadoe produtores competentes porém pouco organizados. Desde o início há na literatura referências e alertas para o impacto sobre os citricultores de uma relação tão assimétrica. Em 1971, o economista John G. Clarke,designado pela FAO para trabalhar no Ital,registra: “Uma nuvem negra no horizonte está aumentando a insatisfação dos citricultores em relação às negociações com os processadores , resultante de um suposto conluio na aquisição de frutas, com o objetivo de influir no preço.”

Em 1974, o crescimento da produção e a crise do petróleo provocaram uma enorme crise no setor e o governo sugeriu que a indústria cítrica brasileira criasse um “pool” exportador inspirado no cartel da OPEP. Em julho de 1974 as indústrias apresentam um documento propondo cotas de exportação, limitação das compras de laranja e distribuição dos estoques. Nesse mesmo ano,a crise obrigou os produtores a criar a Associtrus e as indústrias criaram a Abrassucos.

A crise leva a Sanderson à falência e o estado cria a Frutesp . A CACEX, um órgão designado para controlar as exportações, transformou-se num fórum de debates e árbitro dos preços da laranja. Benedito Moreira, diretor da Cacex na época, comentou em depoimento, em 1985, a Geraldo Hasse, publicado no livro A Laranja,: “ A indústria de suco era uma nova atividade para os homens originados do mercado de fruta “in natura”. Eles têm o mérito da implantação dessa indústria no Brasil, mas como empresários industriais, sua visão tende mais para o imediatismo, daí os conflitos que se agravaram à medida que cresceu o volume de negócios com o exterior.(....)Nessa época as compras de laranja junto aos citricultores eram feitas desorganizadamente. Ouvindo os dois lados achei que os produtores estavam sendo injustiçados, pois a indústria era organizada na compra de frutas. Eu não pretendia, como governo, me meter no conflito, mas aconselhava a indústria a pagar melhores preços.”

Como fórum de negociações, a CACEX procurava administrar três conflitos, entre os citricultores e as indústrias, entre as indústrias grandes e as indústrias pequenas e entre as grandes indústrias.

Em 1976 a Citrosuco e Citrovita foram denunciadas por abuso do poder econômico pelo deputado Herbert Levy.

Apesar da aparente rivalidade entre Citrosuco e Cutrale na época, ambas uniram-se em 1977 para comprar a Citral, Tropsuco e Sucorrico. Em 1981 as empresas foram absolvidas pelo CADE.

Em 1982 foi adotado um sistema de cotas de exportações.

Em 1985 uma nova crise entre citricultores e indústrias resultou em piquetes dos produtores para bloquear as fábricas que não aceitaram os preços aprovadospela CACEX. O caso foi por interferência do presidente Sarney.

A crise provocou uma cisão na Abrassucos e a Cargill e a Citrosuco criaram a ANIC. O acordo das cotas passou a ser questionado por algumasindústrias.

Os citricultores passaram a se organizar em “pools”, enfraquecendo a Associtrus e, sem perceber, fortalecendo as indústrias, que passaram a negociar com os líderes de “pools”, dividindo desta formao setor para melhor controlá-lo.

A Frutesp foi inviabilizada por um ataque dos concorrentes a seus fornecedores e clientes e foi vendida em 1993.

Em 1994, a Associtrus e aAciespdenunciaram ao CADE as indústrias por cartel. Em 1995 as indústrias assinam um termo de correção de conduta TCC com o CADE.

Em 1999 uma nova denúncia gera abertura de um novo processo que está tramitando no CADE até hoje. Neste período, mais de 20 mil citricultores foram excluídos do setor, a maioria perdeu seu patrimônio, outros estão altamente endividados, enquanto a indústria cresceu, concentrou-se e verticalizou-se, tornando-se praticamente autossuficiente em matéria- prima.

Criou-se um novo modelo de produção, baseado em grandes pomares, que usam os municípios que os abrigam como alojamento temporário de” boias- frias”, com o ônus de abrigar e dar assistência social aos trabalhadores trazidos de outras regiões do país durante a colheita.

O modelo que prevaleceu no setoraté o início da década de 90 era o de pequenos e médios produtores que residiam nos municípios citrícolas, dinamizavam a economia, criavam condições de retorno ao município dos jovens que saiam para estudar nos grandes centros, assegurando geração e distribuição de renda e emprego.

Julho de 2015.

Por Flávio Viegas

Presidente da Associtrus


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