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Trabalhamos muito pela citricultura, de coração.

19/10/2016

Agricultor e economista, Osório de Almeida Nascimento Costa recorda-se da época em que esteve à frente da Associtrus e do Fundecitrus.

“O sistema capitalista é extremamente conflituoso, em todos os setores. A indústria de laranja, que transforma um bem perecível em commodity, define regras que, na maioria das vezes, só atende o seu lado”. (Osório de Almeida Nascimento Costa)


O agricultor e economista Osório de Almeida Nascimento Costa recorda-se com muito orgulho da época em que esteve à frente da Associtrus e do Fundecitrus, entre as décadas de 1970 e 1990. Foram anos de muito trabalho e dedicação à citricultura, cultura que escolheu por sua veia empreendedora e pelos estudos que o levavam a crer que o momento, década de 1970, era favorável à cultura de citros.

Em entrevista ao Boletim Eletrônico da Associtrus, ele conta um pouco de sua trajetória como citricultor e líder dos produtores de citros do Estado de São Paulo.

Associtrus – Comente sobre o início da sua história com a citricultura.
Osório –
Minha família é de agricultores. Meu avô, saiu de Ribeirão Preto e fundou uma fazenda de café em Tabapuã. De lá, a produção de expandiu para o norte do Paraná, na região de Porecatu. Com a morte do meu pai, no final da década de 1960, eu passei a administração das propriedades e, como estudava economia na FEA USP, decidi que o melhor caminho a tomar seria substituir os cafezais pela citricultura, atividade muito promissora naquela época. Implantei culturas de ciclo rápido, como tomate, mamão e arroz, e de ciclos médios como café, que deram aporte necessário para investimentos em citrus, acrescidos de recursos bancários.

Associtrus – Como conheceu o cooperativismo?
Osório –
Na mesma época que me envolvi com a administração das propriedades, a cooperativa de Catanduva, da qual eu fazia parte, foi incorporada pelo sistema Coopercitrus e, consequentemente, passei a fazer parte deste sistema. Comecei a me envolver com as questões da citricultura à medida que os pés de laranja ganhavam espaço em minhas propriedades. Como era bastante interessado pelo setor e por tudo que dizia respeito à classe produtiva, passei a compor a Comissão Técnica de Citricultura da Faesp.

Associtrus – E a Associtrus?
Osório –
Quando estava na Faesp, houve em Bebedouro uma renovação da Associtrus e eu fui convidado, junto com o Sr. José Roberto Gullo, a compor a chapa – como vice-presidente - encabeçada por Nelson Marquezelli. Eu e o Gullo éramos vice-presidentes nesta chapa. Quando Marquezelli assumiu a Associtrus ele decidiu transferir a sede para a rua Marconi, em São Paulo. Nesta época, a laranja chegava a representar quase 10% da pauta de exportação do Brasil, com presença marcante no Estado de São Paulo. A laranja era tão importante que a cidade com o maior número de televisores per capita no Brasil, era Monte Azul Paulista. Havia pragas não tão incisivas, os preços eram remuneradores e, a região de Bebedouro e Limeira concentrava grande parte da produção.

Associtrus – Quando assumiu a Associtrus?
Osório –
Fui presidente da Associtrus por duas vezes. Primeiro, quando o Nelson Marquezelli deixou a presidência e, num segundo momento, após ser presidente do Fundecitrus, de 1986 a 1988. Aliás, só dois presidentes da Associtrus também foram presidentes do Fundecitrus, eu e o Sr. Oswaldo Velocci. No Fundecitrus, tive uma participação muito ativa. Durante a minha gestão, adquirimos o prédio onde até hoje está instalado o Fundo, em Araraquara; Substituímos a frota de veículos “Kombis a gasolina” para ônibus a diesel e atualizando a frota; e montamos um departamento técnico muito forte, responsável por parte da área de pesquisa da citricultura, e fundamental na pesquisa de campo cítrico; alicerçando pesquisas em outras áreas do setor citrícola. Depois que deixei a presidência do Fundecitrus, permaneci na diretoria por mais dois anos, como representante dos citricultores, indicado pela Associtrus. No início dos anos 1990 assumi novamente a presidência da Associtrus e foi nesta época que tive o grande susto com a citricultura. Do dia pra noite, passei de uma produção de 250 mil caixas de laranja para 10 a 11 mil caixas, devido a um surto de cancro cítrico em minha propriedade. Perdi 18 quilos em um mês e tive problemas de saúde, por conta do grande estresse. Mas, deixando este episódio pessoal de lado, naquela época, inicio dos anos 90, a citricultura ainda tinha uma representatividade muito grande na pauta de exportações e era uma atividade economicamente importante para o país. Em função da própria dinâmica da sociedade e das mudanças que foram ocorrendo com o passar do tempo, começamos a perceber que a indústria estava atuando de forma cartelizada. Diante desta situação, como presidente da Associtrus, encaminhei denúncia ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que comprovou indícios da prática de cartel. As indústrias contestaram com um processo para provar que não havia cartel e, enquanto corria esse processo, muita coisa mudou. As relações trabalhistas evoluíram, os contratos sofreram alterações, o produtor passou a assumir a responsabilidade pela colheita, os custos aumentaram, enfim, a própria dinâmica da sociedade fez com que as coisas fossem tomando outro rumo.

Associtrus – Como vê a citricultura hoje?
Osório –
Hoje, olhando de fora (não produzo mais laranja - tenho uma propriedade no Mato Grosso voltada para a pecuária e uma empresa de consultoria - acredito que a citricultura se relaciona diretamente com as oscilações do mercado como um todo (consumo, estoque, preço na bolsa de Nova Iorque) que traduzem as tendências de oferta e procura de suco de laranja congelado. A relação com a indústria é a sintese destes processos. As despesas com custos de produção, o aumento do número de pragas e a ampliação das áreas de plantio (a citricultura se espalhou pelo Estado de São Paulo, além de Minas, Paraná e Bahia) fez com que a atividade mudasse radicalmente. Só permanece na citricultura os que aguentaram o “tranco” dos anos anteriores e os que se preparam tecnica e financeiramente para esta fase. A saída de grande parte dos produtores da atividade foi em função do aumento dos custos, da baixa remuneração e pelo atrativo do arrendamento das terras para a cultura da cana-de-açúcar que, anos atrás, se apresentava de forma muito atrativa.

Associtrus – E o papel das associações?
Osório –
O fato das associações continuarem existindo já é algo muito positivo. A Associação é a voz do produtor junto aos governos (federal, estaduais e municipais) e aos próprios consumidores. Sabemos da dificuldade na manutenção das atividades da associação por conta, inclusive, de questões culturais. Muitos não enxergam com clareza a importância da contribuição. O grande patrimônio da citricultura é o mercado, de sucos congelados e de laranja in natura. É esse o verdadeiro patrimônio. Produtores, indústria, trabalhadores daí obtém emprego e renda. Continuo torcendo muito pela laranja e os citricultores.

oancosta@gmail.com


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